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25/10/2010

O TURISMO RURAL TEM FUTURO NO VALE DO PARAÍBA

O TURISMO RURAL TEM FUTURO NO VALE DO PARAÍBA



João Carlos de Faria


O Vale do Paraíba guarda um acervo histórico e cultural de raízes marcadamente rurais, herdado de importantes ciclos econômicos como o café - o que mais contribuiu para a riqueza regional - e a pecuária de leite, em vias de decadência, por uma série de razões conjunturais.

Essa ligação com o campo se traduz numa rica e variada gastronomia, nas festas populares que movimentam os bairros rurais e suas capelinhas, no modo de falar e de se comportar da gente rural. Há também uma variedade de novas atividades que sustentam pequenos sitiantes e restam, mesmo que em ritmo muito menos acelerado, propriedades produtivas dedicadas à pecuária de leite e à agricultura.

Outro elemento importante é a natureza pródiga, que mistura paisagens formadas por extensas áreas planas, ao longo da calha do rio Paraíba, tendo de um lado a serra da Mantiqueira e outro a serra do mar, com trechos de matas exuberantes, cachoeiras e outros atrativos alcançados através de estradinhas bucólicas, que acompanham riachos sinuosos de água limpa e cristalina.

Se juntarmos esses componentes: história e cultura, produção rural e natureza teremos uma parte importante de um produto turístico rural, que se complementa por bons acessos, proximidade do mercado - estamos próximos de São Paulo e Rio de Janeiro e se juntarmos o eixo Taubaté-São José-Jacareí teremos dois terços da população regional de mais de um milhão de habitantes - e boa infra-estrutura.

Há, é claro, algumas coisas a serem feitas, que passam pela adoção de alguns pontos que fundamentam o turismo sustentável: o respeito ao meio ambiente,que significa também um programa permanente de educação ambiental; organização da comunidade de forma a faze-la compreender e perceber os benefícios do turismo; capacitação empresarial e de mão-de-obra para receber bem e promoção adequada e na medida para atrair o público certo.

O turismo rural no Vale do Paraíba terá futuro se for planejado e organizado, levando-se em conta as necessidades dos públicos que se deseja atingir. Nesse aspecto poderia se vislumbrar a organização de um roteiro que envolvesse atividades de lazer para atender ao público local e regional, interessado em passar o dia num pesqueiro integrado a uma propriedade com venda de produtos caseiros, no caminho de uma cachoeira e com direito a um passeio a cavalo até uma fazendinha com leite ao pé da vaca e produtos fresquinhos para serem levados para casa.

Outro roteiro seria oferecido aos turistas de regiões mais distantes, com maior tempo de permanência, conjugando atrativos urbanos como igrejas, museus, casarões do café, e outros atrativos rurais, como forma de enriquecer a sua viagem. Nesse caso, além de pousadas rurais, poder-se-ia se promover uma integração com a rede hoteleira, não só para hospedagem, mas também para a promoção dos roteiros, que também incluiriam as capelinhas rurais com suas festas e seria oferecida a culinária regional.

O turismo rural tem muito a ver com um modo diferente daquele ao qual o turista está acostumado e por essa razão passa também pela valorização cultural e pela autenticidade. Se é assim, talentos locais como os violeiros, as bordadeiras, as doceiras, os alambiqueiros, os artesãos não podem ser esquecidos, mas é bom que eles sejam devidamente preparados para receber as pessoas no seu ambiente de trabalho, não só para matar a curiosidade do turista, como também para conferir autenticidade ao que está sendo vendido. Apesar de funcionar bem, um ponto de venda junto à capelinha ou ao armazém do bairro, não vale amontoar um punhado de coisas, sem nenhum critério e a possibilidade das compras serem feitas diretamente não pode ser descartada.

Quanto à autenticidade, significa dizer que ninguém vai a um restaurante rural para comer o trivial, mas prefere uma comidinha caseira, honesta, preferencialmente com ingredientes produzidos ou colhidos ali mesmo, no quintal. O frango tem que ser caipira, assim como o doce não deve ser de supermercado e nem a cachaça trazida de Pirassununga.

Também importante é a possibilidade de aproveitamento da infra-estrutura já existente, montada num momento de grande movimentação na propriedade e que hoje pode estar ociosa por causa da decadência da atividade leiteira. Isso quer dizer que um antigo rancho pode se transformar num restaurante e a própria sede pode ser adaptada para receber hóspedes, sem exigir muito investimento.

Finalmente, é preciso dizer que tudo isso só terá sentido se gerar desenvolvimento e melhorar a vida da população rural, livrando-a do assistencialismo e estimulando o produtor a continuar produzindo, pois,apesar da mudança de foco, a produção, seja em alta ou pequena escala, será sempre o maior atrativo. É isso que tem feito do turismo um elemento revitalizador da economia rural.

Mesmo levando-se em conta essas rápidas considerações e a necessidade de um levantamento mais apurado, é possível dizer que o Vale do Paraíba tem todas as condições de incorporar roteiros de turismo rural. Há atrativos para todos os gostos e para todos os lados e a demanda regional é grande, com chances de ser aumentada.

É preciso apenas um projeto sério e fundamentado, com estudos de viabilidade, avaliação e organização dos atrativos e da comunidade, estratégias adequadas de marketing e promoção, ou seja, precisamos juntar os ingredientes e finalmente desencadear um processo de profissionalização do turismo, encarando-o como uma atividade econômica das mais promissoras.

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