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03/11/2010

Exploração do Turismo sem Planejamento Estratégico

Falando em Turismo, me lembro de quando era criança que passava as férias na casa dos meus avós em Campos do Jordão, era privilegiado, pois morávamos em São José dos Campos e nos finais de semana e nas férias de Janeiro e Julho, passávamos trinta ou mais dias na casa da vovó, aquilo era um sonho, eles moravam no largo onde é o Teleférico da Cidade, meu avô era chefe da oficina mecânica dos bondes e morava na casa que a Estrada de Ferro Campos do Jordão fornecia aos seus funcionários, costumávamos chamar o local do Pátio da Estação, tínhamos muito espaço para brincar, vamos dizer dava uns 4 campo de futebol de área para correr, soltar pipas, jogar bola, andar de bicicleta e ainda tinha um laguinho onde tinha pedalinho, podíamos sempre quando queríamos subir o morro do elefante de cadeirinha, tomar água direto na fonte onde tem um elefantinho que saía agua super gelada, ainda existe, só não sei se água esta potável para consumo.

Ali era nosso quintal, ainda existia cedrinhos, pinheiros, grama, era a nossa terra do nunca, tínhamos liberdades de fazer o que gostávamos, lembro que nos finais de semana fora temporada lotava de onibus de turistas naquele largo da Estação, esses turistas eram conhecidos como farofeiro de um modo carinhoso, esse apelido era dado aos menos afortunados, que chegavam de madrugada na cidade levando tudo para se comer, tipo frango assado com farofa, torta, arroz, bolo e etc, tudo que se imaginava de gostoso era trazidos por aquelas pessoas, conhecemos muitas dessas pessoas, pois estavam sempre na porta da casa dos meus avós ficava de frente ao estacionamento, sempre existiam alguém querendo informação, tomar uma água, usar um banheiro, falando em banheiro, minha saudosa avó, foi a primeira a tomar conta do banheiro publico do Teleférico, um emprego digno para uma senhora batalhadora, que quando não estava no banheiro coordenando a limpeza, estava com seu carrinho de carro quente de baixo das árvores, fazendo seu tricô e ganhando seu dinheiro honestamente.

Tenho lembrança de quando os turistas estavam em Campos do Jordão, eles vibravam e amavam e cidade, aquele clima gostoso de frio, as coisas gostosas para se comer, as bebidas quentes para aquecer no frio da madrugada ou do sereno do dia, a cidade tinha um ar puro e existia a inocência do morador para explorar esse nicho, tudo era feito de forma caseira, sem exploração, pois as pessoas que ainda frequentavam a cidade na sua maioria era da classe média para baixo, é claro que sempre existiu as classes A e B que faziam a diferença para a cidade, pois dos poucos Restaurantes caros do Centro do Capivari, os hotéis de luxos e as mansões maravilhosas era o seu Glamour, era lindo ficar admirando essas coisas, os turistas da classe alta tinha jeito e comportamento diferentes, como falar, andar, se vestir, como gastar sem dó, os carros importados que ainda era coisa rara de se vê, tinha sim pessoas de muito poder aquisitivo, mas Campos tinha uma concentração enorme das Classe C, D, E, que gastavam muito, pois comia e bebiam dentro do seu padrão de vida. Onde quero chegar, é que desta forma a cidade era igual a mata atlântica enquanto você não mexe no habitat, você tem tudo a seu favor, a partir do momento que o homem chega com sua mania de grandeza, ganância e tecnologia, põe tudo a perder, e falo que a Cidade de Campos do Jordão já foi um local gostoso e prazeroso de ir passear, não que tenha ficado ruim, mas não é a mesma coisa, o crescimento chegou de forma desordenada e desorganizada, sem planejamento estratégico, e o seu foco deixou de capitalizar das classes emergentes que são as classes C,D e E, deixou de lado esses turistas, impondo regras de não entrar mais onibûs na cidade somente até o Portal, tem que ter um guia para cada onibûs, existe muito pouco locais para fornecer uma boa comida e bebida com preços justos e acessíveis, as atracções turísticas ficaram limitadas, pois os preços para se divertir fica salgado de demais para o pai de família com mais de dois filhos, não existe mais as charretinhas puxadas pelos bodes, onde as crianças adoravam, o bondinho era uma atracão de um outro mundo, todos que queriam passear de bondinho, chacoalhava muito, mais isso que era o gostoso, hoje tem que marcar com antecedência para se divertir no bondinho.

Tudo na cidade ficou bem menos acessível, pois o passeio em Campos na temporada de Julho é simplesmente para a atender ao luxo do povo da Capital, standers com carros ultra moderno, tecnologia de ponta, a calçada do Baden entupida de pessoas gastando rios de dinheiros, com petiscos e aperitivos que você come em qualquer bar ou boteco, um verdadeiro desfile de moda das melhores grifes do mundo, cada óculos escuro mais lindo que outro, filas para se comer nos melhores restaurantes da cidade, pagando uma fortuna para comer feijoada e bacalhau....

Só que todo esse luxo esta trazendo para a cidade de 50 mil habitantes no máximo, um caos, na temporada de Julho não existem onibus para atender os moradores da cidade, não se tem bondinho suficiente, custo de vida fica mais caro, o transito é o mesmo caótico da Capital, a poluição aumenta o consumo triplica e consequência triplica também os resíduos gerados, todos esse resíduos vai parar onde, nas encostas dos morros, nos rios e lagos, na vegetação serrana, nas duchas de água natural, rios de águas cinzenta de esgoto, parecido ao do rio tietê, na ducha de prata existem inúmeras garrafas pets boiando, sem contar o mal cheiro d'agua, casas sendo construídas em reservas naturais sem respeitar o meio ambiente, a exploração do turismo nas reservas fechadas sem controle ou planejamento.

Entendam, não sou contra o crescimento, tecnologia e nem com a boa vida que muitos podem ter, estou simplesmente mostrando que a exploração do turismo trás beneficio para uns e problemas para toda a cidade, onde somente conseguem sobreviver a esse mundo de luxuria as pessoas que exploram e  ganham muito dinheiro e detém fama e poder e os demais continuam cada vez mais pobres e sobrevivendo sabe-se como, muitos continuam morando nas encostas, nos morros, não tem condução, não tem onibus, falta alimentação, saúde e educação sem qualidade, tudo porque a ganância e  irresponsabilidade em explorar o turismo de forma desrespeitosa, sem controle, trazendo prejuízos irreversível ao meio ambiente e momentos de transtorno sem paz para com seus moradores, sem pensar no crescimento sustentável.

Serjão A. Moreira

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